Crítica: DEIXA ELA ENTRAR (2008)

Deixa

Deixa

Já escrevi um pouco sobre esta obra-prima que é Deixa Ela Entrar em uma das postagens sobre o Festival Internacional de Terror, no qual assisti ao filme pela primeira vez. Graças ao sucesso nos festivais, o longa chegou aos cinemas e tem repetido a onda de elogios. A temática do vampirismo, em alta graças a Crepúsculo e True Blood, certamente impulsionou o filme que, no entanto, supera o modismo e se sobressai como um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. E não estou exagerando.

Deixa Ela Entrar é puro lirismo e prova cabal que o gênero terror produz pérolas que se imortalizam como filmes de primeira grandeza. O longa nos apresentar a Oskar, um retraído garoto de 12 anos que sobre bullying e a Eli, uma garota que tem 12 anos há muito tempo. Sim, ela é uma vampira mirim (que de inocente não tem nada…) recém-chegada  à vizinhança e que acaba por se tornar amiga de Oskar. Assim, enquanto a pacata cidade se assusta com uma série de crimes e Oskar enfrenta os valentões da escola, o menino e a vampira desenvolvem uma relação ambigua.

O ponto forte do longa é investir nas sutilezas, tão esquecidas pelo gênero ultimamente. A fotografia estática, o clima frio, as tomadas comtemplativas, o ritmo lento mas constante. Tecnicamente, Deixa Ela Entrar cumpre a cartilha ao dar vida a um roteiro brilhante, comandado pela direção competente do diretor Thomas Alfredson. Comandar dois atores tão jovens que atuam de forma tão singela e madura exige um talento que o diretor destila sagazmente.

Ela Entrar

Ela Entrar

Mas é a construção da história que culmina na perfeição alcançada pelo filme. A quantidade de detalhes e sutilezas torna impossível a compreensão da obra em uma única sessão ou por uma única pessoa. Muito do que apreciei do filme veio das conversas nas filas do festival após a sessão. Vou dar um exemplo que terá alguns spoilers, se não quiser ler, pule para o próximo parágrafo. Se repararmos bem no senhor que acompanha Eli, veremos que talvez não se trate de seu pai, como alguns críticos da grande mídia têm entendido, mas de seu amante, que possivelmente a conheceu na mesma idade de Oskar e envelheceu a seu lado. Várias sutilezas o denunciam. Os olhares de amor que desfere a Eli, o ciume que notadamente sente ao ver que a vampira está se relacionando com Oskar e a maneira que Eli o trata quando ele falha (o que também pode denunciar que a vampira não é um poço de bondade como se mostra a Oskar…)

Outro ponto forte do longa é apostar no vampirismo como uma grande metáfora de um humanisno profundo. Se superarmos o asco inicial à temática, com uma boa dose de alteridade, podemos notar que muitas das questões que se desenvolvem sob o foco do vampirismo são, na verdade, conflitos demasiadamente humanos. Para ficar em apenas um exemplo, cito a cena em que Oskar observa Eli trocar de roupa e olha rapidamente para suas genitálias, que simboliza todas angústias sexuais que envolvem a passagem da infância para a adolescência.

Deixa Ela Entrar é um acerto monumental, é poesia, é arte no estado puro, é algo que só o cinema pode nos entregar. Assistir ao filme é estar embasbacado por 110 minutos e sair do cinema com uma sensação de que a sétima arte ainda tem muito a oferecer para este mundo cinza em que vivemos. Só me lembro de Nietzsche nessas horas, afinal a Arte existe para que a verdade não nos destrua.

6 Comentários

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6 Respostas para “Crítica: DEIXA ELA ENTRAR (2008)

  1. As sutilezas da história e da realização me deixaram louco. Amei o filme e vai estar no meu top 3 do ano certamente.

  2. Já tinha lido outra crítica muito positiva. Com certeza vou conferir.

  3. Legal que voltou a atualizar o blog! Sobre “Deixa Ela Entrar” é grande a repercussão em torno do filme, uma vez que já teve exibição na Mostra de SP do ano passado, mas não houve assim tanto alarde como agora que estreou nos cinemas comerciais… Não dei bola quando passou no Festival, agora quero ver…

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  5. Assisti o filme e também gostei muito do que vi. Como você bem definiu, não tem nada de terror… Deixa Ela Entrar é puro lirismo…

  6. rapaz, que coisa linda! me emociono só de pensar na beleza desse filme. que bacana tudo o que escreveu. thank you!

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